Vitor Ramil é astronauta lírico que vaga entre a lágrima e a métrica da poesia de Leminski no show ‘Mantra concreto’

Vitor Ramil apresenta o show ‘Mantra concreto’ dentro do projeto ‘Terças no Ipanema’, do Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro
Ariel Cavotti / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Mantra concreto
Artista: Vitor Ramil
Data e local: 5 de agosto de 2025 no Teatro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Vitor Ramil contou ao público do Teatro Ipanema que chorou quando ouvia sozinho a canção Tierra – música do cantor e compositor espanhol Xoel López vertida por Ramil para o português e gravada pelo artista gaúcho no álbum Campos neutrais (2017) – e que também verteu lágrimas ao terminar de musicar um dos poemas de Paulo Leminski (24 de agosto de 1944 – 7 de junho de 1989) que geraram o repertório do mais recente álbum de Ramil, Mantra concreto (2024), lançado em outubro do ano passado.
Foi assim – como um astronauta lírico que pousou no palco desse teatro carioca revitalizado pelo projeto musical Terças no Ipanema, orquestrado com curadoria de Flávia Souza Lima – que Vitor Ramil vagou entre a métrica e a lágrima interiorizada que embasam a poesia do show Mantra concreto.
Na apresentação de ontem, 5 de agosto, Ramil recebeu a conterrânea Adriana Calcanhotto como convidada para feat inédito. Contudo, a participação quase protocolar de Calcanhotto – na bossa Viajei (2007) e na canção Estrela estrela (1981), reacendida por Adriana Partimpim no álbum O quarto (2024) – nem reluziu como previsto.
O brilho maior da apresentação veio mesmo de toda a imensa parte solo em que Vitor Ramil se acompanhou aos violões, bem iluminado por Marcelo Linhares e ladeado pelos músicos Alexandre Fonseca (bateria, tablas, percussão e programações) e Edu Martins (baixo e synth bass), instrumentistas também presentes no álbum Mantra concreto.
Como um astronauta vindo do espaço da imaginária Satolep, anagrama da cidade natal do artista, Pelotas (RS), Ramil derramou os versos antilíricos de Paulo Leminski, poeta curitibano de escrita caracterizada pela concisão e pelas conexões com a poesia concreta (flerte nítido na arquitetura dos versos dos poemas Anfíbios, Sujeito indireto e Teu vulto) e com a coloquialidade da palavra urbana (vínculo exposto em Um bom poema).
Vitor Ramil recebe Adriana Calcanhotto na segunda das duas apresentações do show ‘Mantra concreto’ no Rio de Janeiro (RJ)
Ariel Cavotti / Divulgação
Estruturado com oito das 15 músicas feitas para o disco a partir dos versos de Leminski, o roteiro do show Mantra concreto manteve a alta voltagem poética quando incursionou pela obra pregressa de Vitor Ramil, reverberando a beleza de canções como A ilusão da casa (2007) e Astronauta lírico (2007), ambas gravadas por Ney Matogrosso, convidado de Ramil na estreia do show Mantra concreto no Terças no Ipanema em 29 de julho.
Como resistir ao convite aliciante (“Vem, anda comigo, pelo planeta / Vamos sumir!”) feito em Loucos de cara (1987) a reboque de versos imagéticos como “Não importam vitórias / Grandes derrotas, bilhões de fuzis / Aço e perfume dos mísseis / Nos teus sapatos”??!
Música lançada por Ramil no álbum Tango (1987), Loucos de cara ressurgiu épica no show, reiterando a força de uma das melhores melodias da obra do poeta (criada a rigor por Kleiton Ramil, o irmão parceiro na criação do tema). Anos depois, Vitor se mostraria musicalmente inspirado à beça na criação de Não é céu (1996), bossa acalorada com que o cantor fechou o roteiro do show Mantra concreto antes do bis.
No bis, Ramil recontou a saga heroica de Joquim (1987), outra música do álbum Tango. Joquim traça o perfil fictício e poético de um conterrâneo pelotense de Ramil, Joaquim da Costa Fonseca Filho (1909 – 1968). A letra foi escrita com todas as liberdades poéticas por Ramil, mas a melodia de Joquim é a de Joey (1976), música composta por Bob Dylan com letra de Jacques Levy (1935 – 2004).
A versão em português de Joey conecta o folk de Nova York (EUA) com a ramilonga de Satolep, terra do astronauta lírico. Mas no fim, no fecho do disco, Vitor Ramil voltou ao começo, ou seja, à poesia concisa de Paulo Leminski, arrematando o show com Caricatura (2024), poema escrito com a melancolia concreta de versos como “Tudo, tudo, tudo / Não passa de caricatura / De você, minha amargura / De ver que viver não tem cura / Viver não tem cura”.
Entre a lágrima e a métrica dos versos de Leminski, Vitor Ramil mostrou que a música e a poesia ao menos são lenitivos capazes de amenizar as dores da vida.
Vitor Ramil canta e toca violão no show ‘Mantra concreto’, baseado no álbum em que o artista musicou poemas de Paulo Leminski (1944 – 1989)
Ariel Cavotti / Divulgação
Ariel Cavotti / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Mantra concreto
Artista: Vitor Ramil
Data e local: 5 de agosto de 2025 no Teatro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♬ Vitor Ramil contou ao público do Teatro Ipanema que chorou quando ouvia sozinho a canção Tierra – música do cantor e compositor espanhol Xoel López vertida por Ramil para o português e gravada pelo artista gaúcho no álbum Campos neutrais (2017) – e que também verteu lágrimas ao terminar de musicar um dos poemas de Paulo Leminski (24 de agosto de 1944 – 7 de junho de 1989) que geraram o repertório do mais recente álbum de Ramil, Mantra concreto (2024), lançado em outubro do ano passado.
Foi assim – como um astronauta lírico que pousou no palco desse teatro carioca revitalizado pelo projeto musical Terças no Ipanema, orquestrado com curadoria de Flávia Souza Lima – que Vitor Ramil vagou entre a métrica e a lágrima interiorizada que embasam a poesia do show Mantra concreto.
Na apresentação de ontem, 5 de agosto, Ramil recebeu a conterrânea Adriana Calcanhotto como convidada para feat inédito. Contudo, a participação quase protocolar de Calcanhotto – na bossa Viajei (2007) e na canção Estrela estrela (1981), reacendida por Adriana Partimpim no álbum O quarto (2024) – nem reluziu como previsto.
O brilho maior da apresentação veio mesmo de toda a imensa parte solo em que Vitor Ramil se acompanhou aos violões, bem iluminado por Marcelo Linhares e ladeado pelos músicos Alexandre Fonseca (bateria, tablas, percussão e programações) e Edu Martins (baixo e synth bass), instrumentistas também presentes no álbum Mantra concreto.
Como um astronauta vindo do espaço da imaginária Satolep, anagrama da cidade natal do artista, Pelotas (RS), Ramil derramou os versos antilíricos de Paulo Leminski, poeta curitibano de escrita caracterizada pela concisão e pelas conexões com a poesia concreta (flerte nítido na arquitetura dos versos dos poemas Anfíbios, Sujeito indireto e Teu vulto) e com a coloquialidade da palavra urbana (vínculo exposto em Um bom poema).
Vitor Ramil recebe Adriana Calcanhotto na segunda das duas apresentações do show ‘Mantra concreto’ no Rio de Janeiro (RJ)
Ariel Cavotti / Divulgação
Estruturado com oito das 15 músicas feitas para o disco a partir dos versos de Leminski, o roteiro do show Mantra concreto manteve a alta voltagem poética quando incursionou pela obra pregressa de Vitor Ramil, reverberando a beleza de canções como A ilusão da casa (2007) e Astronauta lírico (2007), ambas gravadas por Ney Matogrosso, convidado de Ramil na estreia do show Mantra concreto no Terças no Ipanema em 29 de julho.
Como resistir ao convite aliciante (“Vem, anda comigo, pelo planeta / Vamos sumir!”) feito em Loucos de cara (1987) a reboque de versos imagéticos como “Não importam vitórias / Grandes derrotas, bilhões de fuzis / Aço e perfume dos mísseis / Nos teus sapatos”??!
Música lançada por Ramil no álbum Tango (1987), Loucos de cara ressurgiu épica no show, reiterando a força de uma das melhores melodias da obra do poeta (criada a rigor por Kleiton Ramil, o irmão parceiro na criação do tema). Anos depois, Vitor se mostraria musicalmente inspirado à beça na criação de Não é céu (1996), bossa acalorada com que o cantor fechou o roteiro do show Mantra concreto antes do bis.
No bis, Ramil recontou a saga heroica de Joquim (1987), outra música do álbum Tango. Joquim traça o perfil fictício e poético de um conterrâneo pelotense de Ramil, Joaquim da Costa Fonseca Filho (1909 – 1968). A letra foi escrita com todas as liberdades poéticas por Ramil, mas a melodia de Joquim é a de Joey (1976), música composta por Bob Dylan com letra de Jacques Levy (1935 – 2004).
A versão em português de Joey conecta o folk de Nova York (EUA) com a ramilonga de Satolep, terra do astronauta lírico. Mas no fim, no fecho do disco, Vitor Ramil voltou ao começo, ou seja, à poesia concisa de Paulo Leminski, arrematando o show com Caricatura (2024), poema escrito com a melancolia concreta de versos como “Tudo, tudo, tudo / Não passa de caricatura / De você, minha amargura / De ver que viver não tem cura / Viver não tem cura”.
Entre a lágrima e a métrica dos versos de Leminski, Vitor Ramil mostrou que a música e a poesia ao menos são lenitivos capazes de amenizar as dores da vida.
Vitor Ramil canta e toca violão no show ‘Mantra concreto’, baseado no álbum em que o artista musicou poemas de Paulo Leminski (1944 – 1989)
Ariel Cavotti / Divulgação
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