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Temporada de ventos fortes aumenta risco de acidentes fatais com linha com cerol no Ceará

Temporada de ventos fortes aumenta risco de acidentes fatais com linha com cerol no Ceará
Problemas com pipas na rede elétrica aumentam em julho no Ceará.
Enel Ceará/Reprodução
A temporada dos ventos fortes, que coincide com o período de férias escolares, traz de volta uma brincadeira que atrai crianças e adultos: o uso de pipas. No entanto, o que deveria ser apenas diversão pode se tornar uma armadilha com risco grave à vida de motociclistas no Ceará, devido o uso do cerol.
O cerol é uma mistura feita artesanalmente com vidro muído e cola. Ele é passado nas linhas com o objetivo de cortar a pipa de outras pessoas.
Há outras versões que chegam a ser comercializadas, como a linha chilena, feita com linha de algodão, mas tem a mistura do óxido de alumínio e pó de quartzo, que são mais cortantes; e a linha indonésia, de náilon, feita com carbeto de silício e uma cola instantânea.
Linhas com cerol apreendidas pela Polícia Militar em Horizonte.
PMCE/Divulgação
No início de julho, o motociclista Antônio Félix Pinto da Silva, de 27 anos, teve ferimentos graves após ser atingido por uma dessas linhas cortantes quando trafegava de moto na Avenida José Bastos, no Bairro Couto Fernandes, em Fortaleza.
"A gente estava voltando do aniversário do pai dele. Ele ia de moto e eu em um carro com os nossos três filhos. Quando cheguei em casa recebi a ligação de uma pessoa. Pelo vídeo achei que ele estava morto, mas graças a Deus não aconteceu o pior. [...] Foi um livramento", disse Claudiana Pires, esposa da vítima.
Segundo a mulher, Antônio ainda tentou se livrar da linha, mas acabou cortando a lateral do pescoço, a mão e o braço. Além disso, perdeu o controle da moto e caiu, fraturando o punho. Atualmente ele está hospitalizado no Instituto Doutor José Frota (IJF).
"Quando ele avistou a linha ele tentou se defender, se ele não tivesse agido rápido teria sido fatal. Cortou o pescoço de lado e quando ele puxou a linha o dedo ficou pendurado, porque o cerol cortou", falou a esposa do motociclista.
Os ferimentos causados pela linha com cerol fizeram com que Antônio levasse sete pontos no pescoço. Ele também precisou passar por uma cirurgia para colocar platina no punho.
Outra vítima
Policial fica ferido por linha de cerol de pipa na Pacatuba
Dias antes do acidente com Antônio, um policial penal também foi ferido por uma linha com cerol no Bairro Jereissati II, em Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza.
A vítima, que não teve a identificação informada, estava conduzindo uma motocicleta, levando o filho de 6 anos, que não ficou ferido.
O homem foi socorrido por uma equipe da Polícia Militar e levado a Unidade de Pronto Atendimento (Upa), com ferimentos no rosto e na mão.
Conforme a Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP), o agente recebeu alta no mesmo dia.
Mortes por cerol
Bruno Anderson Mesquita, de 22 anos, morreu em julho de 2024, após ter o pescoço cortado por uma linha com cerol em Fortaleza.
Arquivo pessoal
Entre 2023 e 2024, pelo menos três motociclistas morreram no Ceará vítima de linha com cerol, segundo o levantamento do g1. Todos os casos ocorreram nos meses de julho e agosto.
A vítima mais recente foi Bruno Anderson Mesquita, de 22 anos, atingido por uma linha com cerol no quilômetro 3 da BR-116, no Bairro Tancredo Neves, em Fortaleza, em 12 de julho de 2024.
Bruno estava trabalhando como entregador de aplicativo e mesmo ferido conseguiu parar a moto e sentou no meio-fio da rodovia. Porém, ele perdeu muito sangue e quando a ambulância chegou ao local constatou que o rapaz já estava sem vida.
Leôncio Braga, de 24 anos, também teve o pescoço cortado por uma linha quando trafegava de moto na BR-020, em Caucaia, em agosto de 2023.
Arquivo pessoal
Assim como ocorrido com Bruno, Leôncio Braga, de 24 anos, também teve o pescoço cortado por uma linha quando trafegava de moto na BR-020, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, em 6 de agosto de 2023.
O jovem iria buscar a irmã no trabalho quando foi atingido e caiu às margens da rodovia, onde o corpo dele foi localizado ao lado moto, que ainda estava ligada.
No dia 9 de julho de 2023, menos de um mês antes da morte de Leôncio, o motociclista de aplicativo Wellington de Santos de Castro, de 37 anos, morreu também com o pescoço cortado por uma linha na rodovia BR-116, no Bairro Messejana, em Fortaleza.
Risco nas vias férreas
Crianças e adultos se arriscam na via férrea para soltar pipas
Além de fazer vítimas, o usuário da linha com cerol coloca em risco a própria vida, quando se arrisca em locais proibidos ou próximo à rede elétrica.
Segundo o Metrofor, as câmeras do órgão registram rotineiramente crianças e adultos soltando pipas próximo às estações Expedicionários e Montese, na Linha Nordeste, em Fortaleza
Crianças e adultos se arriscam na linha férrea para soltarem pipas.
Metrofor/ Divulgação
Para coibir invasões e outras ocorrências que comprometam a segurança do sistema metroviário, a segurança do órgão realiza rondas nos arredores das linhas ferroviárias.
"Além de colocar vidas em risco, invadir as vias férreas para soltar pipa também ameaça a operação do sistema, podendo danificar equipamentos e prejudicar milhares de trabalhadores e passageiros. O ato está sujeito a enquadramento no Código Penal que, entre outros pontos, em seu artigo 260 prevê o crime de perigo de desastre ferroviário", informou o Metrofor.
Proibido por lei
O uso de fio com cerol, linha chilena ou outro qualquer material cortante é proibido no Ceará pela Lei Estadual n° 17.226, sancionada em 12 de junho de 2020.
"Fica proibido o uso de cerol, linha chilena ou de qualquer outro tipo de material cortante nas linhas de pipas, papagaios, pandorgas e de semelhantes artefatos lúdicos, para recreação ou com finalidade publicitária, em áreas públicas e comuns, em todo o território do Estado do Ceará", diz um trecho da lei.
A fabricação, ainda que artesanalmente, a comercialização e o depósito de cerol, linha chilena ou outros materiais do gênero também são proibidos.
Em caso de descumprimento, o material será apreendido. Além disso, a pessoa pode ser enquadrada no artigo 132 do código penal, por expor a vida ou a saúde de alguém a perigo direto e iminente.
Em casos mais graves, que causem a morte de alguém, a ação pode ser enquadrada como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Ação educativa
AMC realiza ação educativa e instala antenas corta-pipa em motocicletas em Fortaleza.
Tainá Cavalcante/PMF
Com o objetivo de conscientizar motociclistas sobre práticas seguras no trânsito e evitar acidentes com linhas com cerol, a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza realiza diversas ações educativas voltadas a condutores e passageiros.
Durante essas ações, são entregues e instaladas gratuitamente em motocicletas as antenas corta-pipas. O equipamento consiste em uma haste metálica com um gancho na extremidade que consegue cortar a linha com cerol, evitando que ela provoque acidente.
"Há alguns anos a AMC realiza este tipo de ação, porque começou a chamar nossa atenção o histórico de sinistros que a gente tinha na cidade envolvendo a linha com cerol. [...] É uma ação educativa para incentivar as pessoas a usar um equipamento que não é naturalmente obrigatório, mas é necessário para a segurança", falou o gerente de Operação e Fiscalização da AMC, André Luís Barcelos.
De acordo com André Barcelos, algumas regiões de Fortaleza estão mais propícias para acidentes com cerol no período de férias.
"Os s bairros mais periféricos da cidade, com áreas verdes, que circundam a região da Avenida Perimetral ou que vão na direção da região Centro, passando por outras avenidas movimentadas, têm mais incidência", disse André Barcelos.
O gerente da AMC ressalta que para evitar acidente com cerol, além de usar equipamentos de segurança, os motociclistas devem se manter atentos quando perceberem pipas próximas ao local onde estão trafegando.
"Quando o motociclista perceber no trânsito que ali tem pipas sendo empinadas, como forma de prevenção, ele já pode diminuir a velocidade para até desviar, se for o caso", destacou o gerente da AMC.
Atuação da polícia
Conforme a Secretaria da Segurança, a Polícia Militar realiza um trabalho, em todo o Ceará, para orientar a população e coibir o uso do cerol ou de qualquer outro tipo de material cortante em pipas, arraias, papagaios e semelhantes artefatos lúdicos.
A população pode contribuir com as investigações repassando informações para o Disque-Denúncia da Secretaria, no número 181; para o (85)3101-0181, que é o número de WhatsApp, pelo qual podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia ou por meio do endereço eletrônico.
"A legislação proíbe a fabricação artesanal, a comercialização e o depósito de linhas cortantes para uso em atividades recreativas ou com finalidade publicitária e prevê a apreensão dos materiais de quem descumprir a lei", disse a Secretaria da Segurança.
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