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Personal que denunciou assédio de tripulantes em voo vindo de Angola relata comentários 'maldosos' nas redes: 'Mexeu comigo'

Personal que denunciou assédio de tripulantes em voo vindo de Angola relata comentários 'maldosos' nas redes: 'Mexeu comigo'
Personal que denunciou assédio durante voo vindo de Angola relata 'comentários maldosos'
Taíssa Batista Tucci, de 30 anos, a personal trainer que denunciou que foi vítima de assédio e importunação sexual por parte de tripulantes durante um voo da companhia aérea angolana TAAG Airlines relatou neste sábado (9) que tem sofrido com comentários "maldosos" nas redes sociais depois da denúncia.
Taíssa voltava de um intercâmbio na África do Sul e fez uma escala em Angola para regressar ao Brasil. Ao g1, ela contou que se sentiu constrangida ao ser abordada durante a madrugada, quando ela seguia para o banheiro traseiro do avião.
Neste sábado, ela fez stories no Instagram afirmando que a onda de comentários mexeu com ela. Também refletiu sobre as dificuldades das mulheres para denunciar assédios sofridos.
"Hoje entendo exatamente porque tantas mulheres não conseguem falar sobre quando passam situações como essas ou até muito piores que essas porque é muita coisa para você lidar. E é difícil. Estou passando isso na pele. E me desculpa se um dia vi uma situação e falei que faria diferente", afirmou.
"E olha, para todos os comentários maldosos, eu falo para vocês que não é nenhum mérito para uma mulher expor uma situação como essa. Pelo contrário, é muito difícil, porque não é só as críticas, os julgamentos e os comentários maldosos de vocês. É o nosso próprio julgamento diante do que a gente passou, diante do que a gente deveria ter agido ou deixado de agir", disse a personal.
"O nosso julgamento pela nossa fragilidade. Nos dias de hoje a gente fala o quanto a mulher é forte, quanto a mulher é independente. Eu bato nessa tecla, eu realmente acho isso, mas numa situação dessas eu me senti frágil, me senti indefesa, me senti inútil, porque eu mesmo não consigo me defender", acrescentou.
Taíssa também agradeceu o apoio que recebeu, como um comunicado da Câmara de Comércio, Turismo, Indústria, Ciência, Tecnologia & Cultura Brasil-Angola e ressaltou que não generalizou associações do povo angolano com a cultura de estupro.
A TAAG Airlines lamentou “profundamente o ocorrido”, abriu investigação e pediu desculpas “pela situação extremamente desconfortável e inaceitável durante o voo”.
A personal trainer Taíssa Batista Tucci
Arquivo pessoal
A viagem de Taíssa Batista Tucci partiu de Luanda, em Angola, com destino ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, no último domingo (3), antes de retornar ao Rio de Janeiro.
“As luzes estavam baixas, e as pessoas dormiam. A equipe de comissários estava perto do banheiro do fundo. Eram 3 homens e 1 mulher”, lembra Taíssa.
Segundo a personal, ela pediu licença, passou entre os profissionais e entrou na cabine. Quando voltava para seu assento, foi abordada por um deles.
“Ele disse que ‘o amigo de trabalho’ estava falando o quanto eu era bonita. Perguntaram se eu era casada, respondi que sim, e disseram: ‘Que pena pro seu marido’. Quando retruquei dizendo que era sorte dele, ouvi: ‘’Pena que ele precisa dividir’. Eu rebati dizendo que isso jamais aconteceria. Em seguida, um outro disse que no Brasil tinha uma coisa que eles não gostam: a Lei Maria da Penha.”
A passageira relata que se sentiu intimidada e constrangida com a sequência de comentários, e que optou por não reagir de forma mais incisiva. 
“Como eu já tinha passado por situações constrangedoras na África do Sul e em Angola, eu me senti acuada, com medo, e não consegui responder de forma que eu responderia. Eu estava sozinha com 3 homens ali. Estava com medo, frágil e impotente”, lembrou.
“Voltei para o meu assento e comecei a chorar. Eu estava frustrada como mulher, estava exposta. Ali eu era vítima de uma cultura do estupro, e não tinha ninguém para me ajudar. Até mesmo a comissária que estava perto deles era uma vítima. Imagina conviver com esse tipo de situação diariamente?”
Taíssa foi à polícia e usou as redes sociais para denunciar o caso. A personal também enviou uma denúncia para a TAAG.
O caso foi registrado como fato atípico na 16ª DP (Barra) e será encaminhado à Polícia Federal porque os fatos ocorreram no interior o avião no espaço aéreo internacional.
Um dos aviões da TAAG
Divulgação
O que diz a TAAG
Após a postagem, a empresa angolana respondeu à passageira. A empresa lamentou “profundamente o ocorrido” e pediu desculpas “pela situação extremamente desconfortável e inaceitável durante o voo”.
Ainda de acordo com o e-mail recebido por Taíssa, a empresa informou que “o ambiente a bordo deve ser, acima de tudo, seguro e respeitoso para todos os passageiros, independentemente do gênero ou qualquer outra condição”.
A TAAG disse à Taíssa que encaminhou “com urgência a denúncia para as áreas competentes e que tomará todas as medidas necessárias para garantir que situações como esta não se repitam”.
Procurada pelo g1, a TAAG Airlines disse que “assim que tomou ciência do ocorrido, entrou em contato com a passageira”. A companhia salientou ainda que “abriu uma investigação formal para apuração rigorosa dos fatos, e todas as medidas necessárias serão tomadas, conforme os resultados obtidos”.
A TAAG informou que “reforça seu compromisso com a segurança e o respeito de todos os seus passageiros e reitera que não compactua com qualquer tipo de assédio, seja moral ou sexual, discriminação ou conduta inadequada, em nenhuma circunstância, seja a bordo de suas aeronaves ou em qualquer etapa da experiência de viagem”.
Providências jurídicas
O advogado de Taíssa, Daniel Blanck, informou que está preparando uma representação criminal por importunação sexual e assédio sexual contra a TAAG Airlines. Ele destaca que os crimes podem ser aplicados mesmo em território internacional, desde que haja conexão com o Brasil.
“Registramos um chamado na companhia, que se solidarizou e se comprometeu a abrir uma investigação sobre essa transgressão. Mas temos o aspecto civil, que é da indenização pelos danos morais, já que a passagem foi comprada no Brasil. Vamos propor uma ação indenizatória. O objetivo dessa ação é alertar, principalmente as mulheres, a denunciar esse tipo de crime. A Anac tem uma cartilha que orienta passageiros e passageiras que passam por esse tipo de situação desagradável e triste”, destacou o advogado. 
“Quando acontecer esse tipo de caso em um voo, é preciso registrar a situação no momento. Caso não consiga, chame o capitão da aeronave e peça que ele faça um registro de ocorrência no voo — e descreva toda a situação que aconteceu. Assim que desembarcar, procure imediatamente a Polícia Federal e faça um registro de ocorrência”, orientou.
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