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Cultura e denúncia marcam o Dia da Mulher Negra: homicídios aumentam quase 70% em 10 anos no Piauí

Cultura e denúncia marcam o Dia da Mulher Negra: homicídios aumentam quase 70% em 10 anos no Piauí
Imagem de Iemanjá com traços de mulher negra no Piauí
Josivan Gomes/ TV Clube
Celebrar a ancestralidade, a resistência e a criação das mulheres negras é o que propõe a Feira Preta, que acontece nesta sexta-feira (25), no Centro de Teresina. O Piauí é o segundo estado do país com maior aumento na taxa de homicídios de mulheres pretas e pardas entre 2013 e 2023, segundo o Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
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Neste Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latino-Americana e Caribenha, a Feira Preta fomenta o empreendedorismo local com a comercialização de produtos artesanais e gastronômicos que exaltam as raízes afro-brasileiras e indígenas. O início será às 17h, no Espaço Osório Nunes, o Clube dos Diários.
O evento é parte da programação do Julho das Pretas, uma mobilização organizada por coletivos e movimentos de mulheres negras para enfrentamento ao racismo.
Taxa de homicídios cresce quase 70% em uma década
Em 2023, pelo menos 61 mulheres negras - grupo composto por pretas e pardas - foram vítimas de homicídio no Piauí. Foi o que constatou o Atlas da Violência, estudo divulgado em maio deste ano. O número é o maior desde 2013.
Embora no Brasil como um todo, os registros de homicídio de mulheres negras tenha caído 20,4% entre 2013 a 2023, o cenário em 13 estados tornou-se pior. O Piauí é o segundo deles com o aumento mais acentuado: 69,4%, atrás somente do Ceará (74,4%).
O estudo não diferencia feminicídios e considera as mortes violentas em geral
“Quando olhamos para os últimos cinco anos (2018 a 2023), a tendência brasileira como um todo também foi de queda na taxa (na ordem de 17,3%). Piauí é o único que, tanto na última década como nos últimos cinco anos, figura entre os três estados com as piores taxas. Entre 2018 e 2023, apresentou um crescimento de 39,4% da taxa de homicídio de mulheres negras”, pontua o levantamento. Confira os números detalhados abaixo.
Homicídios de mulheres negras registrados no Piauí
2013 - 36
2014 - 51
2015 - 56
2016 - 43
2017 - 39
2018 – 43
2019 - 35
2020 – 41
2021 – 53
2022 – 60
2023 - 61
Relembre alguns casos:
Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, assassinada na Zona Leste de Teresina
Verônica Félix Ribeiro, 23 anos, assassinada na Zona Norte de Teresina
Maria Raimunda Cruz Silva, de 38 anos, assassinada na Zona Norte de Teresina
Irismar Castro, de 38 anos, assassinada na cidade de Piripiri
Em relação às mulheres não-negras, quatro foram vítimas de homicídio em 2023. O número é 60% inferior ao registrado em 2013, quando 10 mulheres não-negras tiveram morte violenta.
Como mudar a rota?
Nesta sexta-feira (25), o g1 conversou com a mestre em educação e coordenadora do Instituto da Mulher Negra do Piauí – Ayabás, Halda Regina. Ela também participa da Frente Popular de Mulheres de Enfrentamento ao Feminicídio e da Rede de Mulheres Negras do Nordeste.
Para ela, os dados, ao apontar que mulheres negras são as mais atingidas pela violência, evidenciam o encontro entre a cultura patriarcal e o racismo estrutural, ambos fortemente enraizados no Brasil.
“Pelo fato de já nascermos mulheres, já nascemos logicamente discriminadas, por questão cultural e histórica. E em todas as violências que possam se colocar nesse país, seja de gênero, seja de racismo, seja na área da saúde, seja de falta de oportunidade, somos nós, mulheres negras, que somos as mais acometidas”, afirmou.
“Se os dados estão comprovando isso, como é que a gente, a partir desses dados, a partir dessa consciência, dessa concepção, pode conseguir mudar a rota? Porque a rota está dizendo que nós somos as mais discriminadas. Quem está no comando, que pode direcionar todas as políticas, precisa pensar nisso, em desenvolver o estado”, completou.
Ela destaca que a dependência econômica pode deixar mulheres ainda mais vulneráveis à violência doméstica, por exemplo. E por isso, a autonomia financeira é um dos principais fatores que ajudam as mulheres vítimas a romper com ciclos de agressão.
“Como que eu posso mudar a vida dessas pessoas que são empobrecidas? Se eu não conseguir mudar a situação dessas pessoas, nós vamos ter um desenvolvimento para quem? Para que? Quem vai usufruir desse desenvolvimento do estado?”, questionou.
“Quando se fala de políticas públicas para mulheres, o que se pensa é somente em segurança, em criação de delegacias, em prender o agressor, mas não se pensa em uma política transversal. Todas as áreas, da cultura, do lazer, da segurança, da educação, da moradia, da intolerância, tudo isso precisa mudar. E muda também a partir de políticas públicas, mas políticas públicas que possam ser políticas de equidade, para a gente chegar a uma igualdade”, concluiu.
Políticas de igualdade são urgentes diante do aumento da violência contra a mulher negra
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