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Saiba como pesquisa usa IA para identificar risco de câncer de boca com exames simples

Saiba como pesquisa usa IA para identificar risco de câncer de boca com exames simples
Atendimento odontológico
Caroline LM/ Unsplash
Imagine descobrir o risco de desenvolver câncer antes mesmo que qualquer lesão apareça. E fazer isso com um exame rápido, acessível e com a ajuda da inteligência artificial (IA). Essa é a proposta que um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolveu: um sistema inovador para detectar indícios precoces do câncer de boca.
Coordenado pelo professor Pantelis Varvaki Rados, do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFRGS, o estudo apostou na união entre tecnologia, ciência básica e saúde pública para criar um modelo de triagem que possa, no futuro, ser usado em larga escala, inclusive em postos de saúde.
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A ideia não é substituir os exames clínicos nem a biópsia, mas oferecer uma ferramenta acessível e rápida para identificar pessoas com maior risco de desenvolver o câncer oral, o que pode significar diagnósticos mais precoces e chances reais de cura.
"A gente vai ter um volume alto de pessoas com parâmetros citológicos analisado. Saiu do padrão, o humano revisa e avalia o paciente de forma individualizada", comenta Pantelis.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontados pela UFRGS, o câncer de cavidade oral está entre os dez mais frequentes no Brasil, com mais de 15 mil novos casos estimados por ano. Desses, mais de seis mil resultam em morte.
Os principais fatores de risco são consumo de tabaco e álcool, mas há também influência de má higiene bucal, exposição excessiva ao sol (em especial no caso de câncer de lábio) e infecção pelo vírus HPV.
Duas fases
Para entender como a tecnologia foi integrada ao processo de triagem, é preciso conhecer o caminho percorrido pelos pesquisadores. O estudo foi dividido em duas grandes etapas, que se complementam:
1. Fase manual
O ponto de partida foi o estudo detalhado das regiões organizadoras nucleolares (ou NORs, na sigla em inglês). Essas regiões dos cromossomos estão diretamente ligadas à multiplicação celular. Quando aumentam de número, sinalizam que a célula pode estar sendo influenciada por agentes cancerígenos, o que as torna importantes como biomarcadores.
Para visualizá-las, os pesquisadores usaram uma técnica de coloração com prata, já que as NORs são invisíveis ao microscópio sem esse processo. Por isso, o nome AgNOR: “Ag” é o símbolo da prata na tabela periódica.
A equipe analisou célula por célula em lâminas citológicas armazenadas ao longo de anos, contando manualmente a quantidade de AgNORs em cada núcleo. Com isso, foi possível estabelecer um padrão de referência confiável, que serviria de base para a próxima etapa.
2. Fase automatizada
Com esse banco de dados em mãos, os cientistas partiram para a etapa de automação. As lâminas citológicas foram digitalizadas e inseridas em um sistema batizado de AgNOR Slide-Image Examiner. A inteligência artificial foi treinada para identificar, contar e analisar automaticamente as regiões AgNOR em cada núcleo celular.
A IA demonstrou alta concordância com o olhar humano, validando a precisão do sistema. No entanto, o que mais chamou atenção foi o tempo: uma tarefa que antes exigia cerca de 67 horas de trabalho manual pôde ser realizada em apenas 20 minutos com a ajuda da IA.
Marcação de AgNORs na pesquisa da UFRGS
Image Examiner/ Divulgação/ UFRGS
Um número que acende o alerta
Um dos grandes marcos do projeto foi a definição de um valor de referência: a média estatística de 3,69 AgNORs por núcleo celular. Quando uma amostra apresenta esse número ou mais, ela é considerada suspeita e merece acompanhamento mais próximo.
A lógica é semelhante a outros indicadores de saúde. O coordenador Pantelis compara:
"Esse número é mais ou menos como a pressão 13 por 8. Se estiver acima disso, esse paciente precisa ser observado com mais atenção", explica.
O custo
Apesar da eficácia da coloração com prata, há uma barreira importante: o custo. Um único pote de reagente pode chegar a R$ 3 mil. Por isso, os pesquisadores também exploraram alternativas mais baratas, como o método de Papanicolau, amplamente utilizado em exames ginecológicos.
No contexto do estudo, o Papanicolau foi adaptado para examinar alterações morfológicas nas células da mucosa bucal. A grande vantagem está no preço acessível, o que torna essa abordagem viável para ser aplicada na rede pública de saúde.
Células, núcleos e aglomerados celulares a partir do reconhecimento do sistema Papanicolau Slide
Image Examiner/ Divulgação/ UFRGS
Os próximos passos
A equipe agora trabalha para cruzar os dados clínicos dos pacientes com as informações celulares coletadas. Isso deve ampliar o poder preditivo da ferramenta.
No futuro, a intenção é aplicar a IA em programas de rastreamento em larga escala, especialmente em unidades básicas de saúde, onde a triagem precoce pode fazer toda a diferença.
"A citopatologia é uma ferramenta de prospecção. A ideia é identificar quem está em risco maior para desenvolver o câncer e acompanhar essa pessoa de perto", diz o professor.
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