Inclusão socioprodutiva leva renda, dignidade e autonomia a quem mais precisa

Pessoas em situação de vulnerabilidade e reintegração social encontram recomeço na capacitação e no empreendedorismo –
Acervo pessoal de Maria Azevedo
Reduzir as desigualdades no Brasil é um desafio e um objetivo a ser conquistado dia após dia. Enfrentamos uma grande exclusão social, e essa situação se agravou ainda mais com a pandemia da covid-19. Segundo o Banco Mundial, cerca de 49 milhões de brasileiros passaram a viver em situação de pobreza nesse período. Em 2023, dados da PNAD Contínua do IBGE mostraram que 8,6 milhões estavam desempregados, 3,7 milhões haviam desistido de procurar emprego e outros 12,3 milhões estavam fora do mercado de trabalho.
Mas em meio a estatísticas tão duras, histórias como a de Maria Azevedo de Brito, moradora do sertão do Rio Grande do Norte, mostram que é possível transformar vulnerabilidade em potência — mesmo no município de Cruzeta, onde o índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) é de apenas 0,654, segundo o IBGE. Ali, no sítio chamado Umari II, ela e o marido, José Orly, tiram do cultivo orgânico do algodão, frutas e legumes o próprio sustento e ainda inspiram outros produtores rurais.
Maria atribui a virada de seu negócio a Roberto Cavalcante, um jovem universitário que fazia estágio na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). “Ele foi um anjo na nossa vida”, relembra com carinho. O estudante havia recebido uma bolsa e estava acompanhando pequenos produtores da região em 2015, quando enxergou o potencial das hortaliças orgânicas cultivadas por Maria e insistiu: “Vocês têm que levar esses produtos para as feiras. As pessoas precisam conhecer isso aqui.” Maria produzia principalmente para o consumo em casa, apesar de fornecer informalmente para pessoas próximas.
A partir da participação nas feiras, Maria teve o primeiro contato com Sergina Dantas, analista do Sebrae-RN, que se tornaria uma das principais incentivadoras do seu trabalho. De Roberto e Sergina aos compradores locais, esse conjunto de apoios forma a base da inclusão socioprodutiva: iniciativas que promovem o acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade ou ressocialização ao mercado de trabalho, seja com carteira assinada ou por meio do próprio negócio.
Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, essa proposta reforça que gerar oportunidades concretas é essencial para combater a disparidade econômica. E o Sebrae apoia essa visão. “Todos devemos repactuar nosso compromisso com a transformação social por meio da inclusão produtiva”, afirma Décio Lima, presidente da instituição.
A produção orgânica de Maria e José é diversa. Alface, cebolinha, coentro, rúcula, tomate cereja, melancia, graviola, melão cheiroso e mais
Acervo pessoal de Maria Azevedo
Do algodão à energia solar
Com esse apoio valioso, Maria passou a enxergar seu sítio com outros olhos. Ao longo da caminhada, ela e o marido participaram de diversas oficinas oferecidas pelo Sebrae, receberam consultoria técnica especializada e orientações sobre compra e venda dos produtos. “Sempre que eu posso, estou dentro”, comentou sobre as capacitações. Também integraram o projeto AgroSertão, focado no fortalecimento da agricultura familiar no semiárido. Além disso, Maria fez parte do programa Sebrae Delas e do movimento Mulheres do Agro, iniciativas que reforçaram ainda mais seu protagonismo no campo.
O grande astro da produção hoje é o algodão, que inclusive é vendido para uma grande varejista de moda nacional. Além das hortaliças, Maria e José produzem leite, queijos, doces, licores e lambedores (espécie de xarope caseiro feito com plantas medicinais), aproveitando quase tudo do pequeno espaço que tem. “A gente compra o açúcar. Mas quase todo resto é tirado daqui”, afirma feliz.
A vida no campo, no entanto, não é feita só de colheita. Por trás do que se vê, há muito trabalho e superação. A experiência com o Sebrae também trouxe o reconhecimento. “Antes, as pessoas não sabiam do que a gente era capaz. Hoje sou convidada para eventos. Estudantes e até chefes de município vêm aqui conhecer nosso trabalho. Isso foi um pontapé muito grande, sou muito reconhecida”, celebra.
A dedicação e o amor pelo que faz já rendeu uma surpresa inesquecível, também impulsionada pela Sergina do Sebrae. Em 2024, durante a tradicional Festa do Boi, no Rio Grande do Norte, Maria foi homenageada com uma imagem sua em diversos painéis do evento. “Quando eu cheguei lá e vi minha foto, eu pensei: ‘Meu Deus, me escolheram!’ Foi uma das maiores emoções que já vivi. Também me chamaram até o palco e fiz um pronunciamento sobre o meu trabalho para todo mundo. Foi um dos momentos que mais me marcaram.”
Foi também a agricultura que a ajudou a se reerguer de momentos difíceis, como o fim de um casamento anterior e episódios de depressão. Com força e coragem, ela seguiu em frente ao lado de José. Juntos, através desse reconhecimento, investiram em melhorias: instalaram energia solar, internet e até um sistema automatizado para ligar e desligar a bomba d’água. “Antes a gente precisava ir até o catavento. Hoje, a gente faz tudo de casa. É outro mundo.”
Aos 56 anos, Maria tem pouca habilidade na leitura e escrita, mas não deixa que isso a impeça de aprender. Quer fazer um curso, comprar um computador e registrar suas receitas para que não se percam. “Quero dar continuidade à nossa cultura, ao que minhas bisavós me ensinaram pra ficar pra outras gerações.”
E o futuro? Maria sonha em seguir cultivando e colhendo. “Meu maior propósito é melhorar nosso cantinho aqui e produzir cada vez mais. Hoje eu me sinto uma empreendedora. Antes eu me perguntava se um dia chegaria lá. Agora, quando alguém me vê na feira e pergunta se fui eu mesma que fiz tudo aquilo, eu digo com gosto: fui eu, sim.”
Onde uma tece, todas crescem
Palha do tucumã, retirada com cuidado da floresta. Árvore típica da Amazônia. Tingimentos naturais. Tradição passada de mãe para filha. Uma rede de mulheres que, trançando juntas, têm mudado a própria história. É assim que a artesã Neida Maria Pereira Rego, de 54 anos, resume a trajetória dos Trançados dos Arapiuns. O que começou na infância, hoje reúne centenas de artesãos em oito comunidades ribeirinhas e indígenas da região do rio Arapiuns, em Santarém (PA).
“Comecei a ajudar minha mãe ainda criança, com uns 10 anos. Era vendido para um atravessador [intermediário que compra do produtor mais barato e lucra com a revenda], mas já era gostoso fazer”, conta ela. A virada veio em 2000, com a chegada de um projeto de turismo de base comunitária e o envolvimento do Ibama e do Sebrae. “Foi com a capacitação que a gente aprendeu a caprichar no tingimento, melhorar o acabamento, valorizar o nosso trabalho”, lembra.
A associação atua em comunidades como Vista Alegre, Pedreira e Coroca. A produção ganhou destaque junto à criação de tartarugas na região, atraindo turistas. O artesanato é 100% orgânico e não agride o meio ambiente. “Nunca vi um tucumãzeiro morrer por nossa causa. A gente tira a palha e só volta naquela árvore meses depois. Agora começamos a plantar nos quintais”, explica.
Neida é formada pelo Empretec, metodologia do Sebrae voltada ao fortalecimento do comportamento empreendedor. “Para mim, foi como fazer um curso superior. Aprendi a gerir o negócio, sobre finanças, comportamento das pessoas e entendi que nosso artesanato não é só um produto, mas carrega uma história”, reflete. “Digo para as meninas: não fiquem tristes quando dizem que está caro. É que ainda não entenderam o valor.”
A produção artesanal das paraenses reúne bolsas, pendentes, cestinhas, mandalas, descanso para panelas e até luminárias
Acervo pessoal de Neida Pereira
Neida, diretora da produção, também modernizou o negócio: internet nas comunidades, sistema com QR code e pagamento via Pix. “Cada artesã tem sua tabela de preço, e tudo é registrado. Quando some algum produto da estatística de venda, a gente cobre com a porcentagem da associação para ninguém sair no prejuízo.”
Com a visibilidade, o grupo também passou a realizar vendas nas redes sociais, com catálogo on-line. As peças já chegaram ao Japão, França, Inglaterra e Estados Unidos. “Começou com turistas. Algumas clientes compraram só para ver se chegava. Quando deu certo, começaram a pedir em grande volume”, conta.
Agora, o foco é na juventude local. “Queremos que o jovem veja que tem emprego e futuro aqui mesmo”, diz Neida. O plano é renovar o catálogo com novas cores e investir em gestão e hospitalidade. “Chamamos o Sebrae de novo para ajudar. A ideia era fazer em cinco anos, mas já começou. E estamos animadas.”
Ela venceu o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios em 2007, participou de rodadas de negócios, feiras, formações em Brasília e viu a associação ganhar três vezes o Top 100 do Artesanato Brasileiro. Em 2006, o grupo começou com 20 mulheres. Hoje, está com 214.
A renda gerada transformou o papel das mulheres nas comunidades. “Antes, muitas não tinham dinheiro e eram vistas só pelos maridos. Hoje, elas compram o que querem, vão aonde querem. A associação também leva formação sobre os direitos da mulher. É empoderamento de verdade”, afirma.
Embora a realidade da região do rio Arapiuns seja diferente dos centros urbanos, o espírito empreendedor é o mesmo que move milhões de brasileiros em territórios populares. Segundo pesquisa do Data Favela (2023), quase um terço dos moradores de favelas já empreende, e 70% desejam manter seus negócios dentro da própria comunidade. Isso só mostra como a força do coletivo realmente transforma união em renda, apoio em oportunidades e sonhos em negócios.
O trabalho como recomeço
Enquanto em comunidades como as de Maria e Neida a inclusão produtiva floresce com a força do empreendedorismo por meio da terra e das tradições, em outros contextos ela está diretamente ligada ao mercado de trabalho. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), em março de 2025, 59% das vagas de emprego foram criadas pelas micro e pequenas empresas (MPE). Os setores que mais geraram postos de trabalho foram o transporte rodoviário de cargas, construção de edifícios e comércio varejista em hiper e supermercados.
Mas não acaba aí. Muitas pessoas que cumprem ou já cumpriram pena no sistema prisional também têm encontrado novas oportunidades. É o caso da APAC de Caratinga (MG), onde a ressocialização é feita com dignidade, educação e trabalho. Com apoio do Sebrae, essa experiência brasileira tem ganhado visibilidade no país e fora dele como um exemplo de justiça mais humana e eficaz.
A inclusão socioprodutiva transforma vidas porque acredita no que cada pessoa pode construir com apoio, dignidade e oportunidade
Divulgação
Quer transformar sua realidade com apoio do Sebrae? Você pode começar por alguma destas capacitações:
Extensão em empreendedorismo social e negócios de impacto social
Curso on-line para quem quer unir renda e propósito, transformando boas ideias em soluções reais.
Inclusão socioprodutiva e empreendedorismo
E-book para quem está no CadÚnico e busca caminhos para empreender com apoio.
Inclusão produtiva pelo Sebrae-SP
Programas e soluções voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social.
Acervo pessoal de Maria Azevedo
Reduzir as desigualdades no Brasil é um desafio e um objetivo a ser conquistado dia após dia. Enfrentamos uma grande exclusão social, e essa situação se agravou ainda mais com a pandemia da covid-19. Segundo o Banco Mundial, cerca de 49 milhões de brasileiros passaram a viver em situação de pobreza nesse período. Em 2023, dados da PNAD Contínua do IBGE mostraram que 8,6 milhões estavam desempregados, 3,7 milhões haviam desistido de procurar emprego e outros 12,3 milhões estavam fora do mercado de trabalho.
Mas em meio a estatísticas tão duras, histórias como a de Maria Azevedo de Brito, moradora do sertão do Rio Grande do Norte, mostram que é possível transformar vulnerabilidade em potência — mesmo no município de Cruzeta, onde o índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) é de apenas 0,654, segundo o IBGE. Ali, no sítio chamado Umari II, ela e o marido, José Orly, tiram do cultivo orgânico do algodão, frutas e legumes o próprio sustento e ainda inspiram outros produtores rurais.
Maria atribui a virada de seu negócio a Roberto Cavalcante, um jovem universitário que fazia estágio na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). “Ele foi um anjo na nossa vida”, relembra com carinho. O estudante havia recebido uma bolsa e estava acompanhando pequenos produtores da região em 2015, quando enxergou o potencial das hortaliças orgânicas cultivadas por Maria e insistiu: “Vocês têm que levar esses produtos para as feiras. As pessoas precisam conhecer isso aqui.” Maria produzia principalmente para o consumo em casa, apesar de fornecer informalmente para pessoas próximas.
A partir da participação nas feiras, Maria teve o primeiro contato com Sergina Dantas, analista do Sebrae-RN, que se tornaria uma das principais incentivadoras do seu trabalho. De Roberto e Sergina aos compradores locais, esse conjunto de apoios forma a base da inclusão socioprodutiva: iniciativas que promovem o acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade ou ressocialização ao mercado de trabalho, seja com carteira assinada ou por meio do próprio negócio.
Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, essa proposta reforça que gerar oportunidades concretas é essencial para combater a disparidade econômica. E o Sebrae apoia essa visão. “Todos devemos repactuar nosso compromisso com a transformação social por meio da inclusão produtiva”, afirma Décio Lima, presidente da instituição.
A produção orgânica de Maria e José é diversa. Alface, cebolinha, coentro, rúcula, tomate cereja, melancia, graviola, melão cheiroso e mais
Acervo pessoal de Maria Azevedo
Do algodão à energia solar
Com esse apoio valioso, Maria passou a enxergar seu sítio com outros olhos. Ao longo da caminhada, ela e o marido participaram de diversas oficinas oferecidas pelo Sebrae, receberam consultoria técnica especializada e orientações sobre compra e venda dos produtos. “Sempre que eu posso, estou dentro”, comentou sobre as capacitações. Também integraram o projeto AgroSertão, focado no fortalecimento da agricultura familiar no semiárido. Além disso, Maria fez parte do programa Sebrae Delas e do movimento Mulheres do Agro, iniciativas que reforçaram ainda mais seu protagonismo no campo.
O grande astro da produção hoje é o algodão, que inclusive é vendido para uma grande varejista de moda nacional. Além das hortaliças, Maria e José produzem leite, queijos, doces, licores e lambedores (espécie de xarope caseiro feito com plantas medicinais), aproveitando quase tudo do pequeno espaço que tem. “A gente compra o açúcar. Mas quase todo resto é tirado daqui”, afirma feliz.
A vida no campo, no entanto, não é feita só de colheita. Por trás do que se vê, há muito trabalho e superação. A experiência com o Sebrae também trouxe o reconhecimento. “Antes, as pessoas não sabiam do que a gente era capaz. Hoje sou convidada para eventos. Estudantes e até chefes de município vêm aqui conhecer nosso trabalho. Isso foi um pontapé muito grande, sou muito reconhecida”, celebra.
A dedicação e o amor pelo que faz já rendeu uma surpresa inesquecível, também impulsionada pela Sergina do Sebrae. Em 2024, durante a tradicional Festa do Boi, no Rio Grande do Norte, Maria foi homenageada com uma imagem sua em diversos painéis do evento. “Quando eu cheguei lá e vi minha foto, eu pensei: ‘Meu Deus, me escolheram!’ Foi uma das maiores emoções que já vivi. Também me chamaram até o palco e fiz um pronunciamento sobre o meu trabalho para todo mundo. Foi um dos momentos que mais me marcaram.”
Foi também a agricultura que a ajudou a se reerguer de momentos difíceis, como o fim de um casamento anterior e episódios de depressão. Com força e coragem, ela seguiu em frente ao lado de José. Juntos, através desse reconhecimento, investiram em melhorias: instalaram energia solar, internet e até um sistema automatizado para ligar e desligar a bomba d’água. “Antes a gente precisava ir até o catavento. Hoje, a gente faz tudo de casa. É outro mundo.”
Aos 56 anos, Maria tem pouca habilidade na leitura e escrita, mas não deixa que isso a impeça de aprender. Quer fazer um curso, comprar um computador e registrar suas receitas para que não se percam. “Quero dar continuidade à nossa cultura, ao que minhas bisavós me ensinaram pra ficar pra outras gerações.”
E o futuro? Maria sonha em seguir cultivando e colhendo. “Meu maior propósito é melhorar nosso cantinho aqui e produzir cada vez mais. Hoje eu me sinto uma empreendedora. Antes eu me perguntava se um dia chegaria lá. Agora, quando alguém me vê na feira e pergunta se fui eu mesma que fiz tudo aquilo, eu digo com gosto: fui eu, sim.”
Onde uma tece, todas crescem
Palha do tucumã, retirada com cuidado da floresta. Árvore típica da Amazônia. Tingimentos naturais. Tradição passada de mãe para filha. Uma rede de mulheres que, trançando juntas, têm mudado a própria história. É assim que a artesã Neida Maria Pereira Rego, de 54 anos, resume a trajetória dos Trançados dos Arapiuns. O que começou na infância, hoje reúne centenas de artesãos em oito comunidades ribeirinhas e indígenas da região do rio Arapiuns, em Santarém (PA).
“Comecei a ajudar minha mãe ainda criança, com uns 10 anos. Era vendido para um atravessador [intermediário que compra do produtor mais barato e lucra com a revenda], mas já era gostoso fazer”, conta ela. A virada veio em 2000, com a chegada de um projeto de turismo de base comunitária e o envolvimento do Ibama e do Sebrae. “Foi com a capacitação que a gente aprendeu a caprichar no tingimento, melhorar o acabamento, valorizar o nosso trabalho”, lembra.
A associação atua em comunidades como Vista Alegre, Pedreira e Coroca. A produção ganhou destaque junto à criação de tartarugas na região, atraindo turistas. O artesanato é 100% orgânico e não agride o meio ambiente. “Nunca vi um tucumãzeiro morrer por nossa causa. A gente tira a palha e só volta naquela árvore meses depois. Agora começamos a plantar nos quintais”, explica.
Neida é formada pelo Empretec, metodologia do Sebrae voltada ao fortalecimento do comportamento empreendedor. “Para mim, foi como fazer um curso superior. Aprendi a gerir o negócio, sobre finanças, comportamento das pessoas e entendi que nosso artesanato não é só um produto, mas carrega uma história”, reflete. “Digo para as meninas: não fiquem tristes quando dizem que está caro. É que ainda não entenderam o valor.”
A produção artesanal das paraenses reúne bolsas, pendentes, cestinhas, mandalas, descanso para panelas e até luminárias
Acervo pessoal de Neida Pereira
Neida, diretora da produção, também modernizou o negócio: internet nas comunidades, sistema com QR code e pagamento via Pix. “Cada artesã tem sua tabela de preço, e tudo é registrado. Quando some algum produto da estatística de venda, a gente cobre com a porcentagem da associação para ninguém sair no prejuízo.”
Com a visibilidade, o grupo também passou a realizar vendas nas redes sociais, com catálogo on-line. As peças já chegaram ao Japão, França, Inglaterra e Estados Unidos. “Começou com turistas. Algumas clientes compraram só para ver se chegava. Quando deu certo, começaram a pedir em grande volume”, conta.
Agora, o foco é na juventude local. “Queremos que o jovem veja que tem emprego e futuro aqui mesmo”, diz Neida. O plano é renovar o catálogo com novas cores e investir em gestão e hospitalidade. “Chamamos o Sebrae de novo para ajudar. A ideia era fazer em cinco anos, mas já começou. E estamos animadas.”
Ela venceu o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios em 2007, participou de rodadas de negócios, feiras, formações em Brasília e viu a associação ganhar três vezes o Top 100 do Artesanato Brasileiro. Em 2006, o grupo começou com 20 mulheres. Hoje, está com 214.
A renda gerada transformou o papel das mulheres nas comunidades. “Antes, muitas não tinham dinheiro e eram vistas só pelos maridos. Hoje, elas compram o que querem, vão aonde querem. A associação também leva formação sobre os direitos da mulher. É empoderamento de verdade”, afirma.
Embora a realidade da região do rio Arapiuns seja diferente dos centros urbanos, o espírito empreendedor é o mesmo que move milhões de brasileiros em territórios populares. Segundo pesquisa do Data Favela (2023), quase um terço dos moradores de favelas já empreende, e 70% desejam manter seus negócios dentro da própria comunidade. Isso só mostra como a força do coletivo realmente transforma união em renda, apoio em oportunidades e sonhos em negócios.
O trabalho como recomeço
Enquanto em comunidades como as de Maria e Neida a inclusão produtiva floresce com a força do empreendedorismo por meio da terra e das tradições, em outros contextos ela está diretamente ligada ao mercado de trabalho. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), em março de 2025, 59% das vagas de emprego foram criadas pelas micro e pequenas empresas (MPE). Os setores que mais geraram postos de trabalho foram o transporte rodoviário de cargas, construção de edifícios e comércio varejista em hiper e supermercados.
Mas não acaba aí. Muitas pessoas que cumprem ou já cumpriram pena no sistema prisional também têm encontrado novas oportunidades. É o caso da APAC de Caratinga (MG), onde a ressocialização é feita com dignidade, educação e trabalho. Com apoio do Sebrae, essa experiência brasileira tem ganhado visibilidade no país e fora dele como um exemplo de justiça mais humana e eficaz.
A inclusão socioprodutiva transforma vidas porque acredita no que cada pessoa pode construir com apoio, dignidade e oportunidade
Divulgação
Quer transformar sua realidade com apoio do Sebrae? Você pode começar por alguma destas capacitações:
Extensão em empreendedorismo social e negócios de impacto social
Curso on-line para quem quer unir renda e propósito, transformando boas ideias em soluções reais.
Inclusão socioprodutiva e empreendedorismo
E-book para quem está no CadÚnico e busca caminhos para empreender com apoio.
Inclusão produtiva pelo Sebrae-SP
Programas e soluções voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social.
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