Guarda municipal réu por matar jovem de 15 anos em Campinas vai a júri popular

Jordy Moura Silva, de 15 anos, morto por um guarda metropolitano em Campinas, em 2020.
Arquivo pessoal
A Justiça determinou que o guarda municipal de Campinas (SP) Claudino Gonçalves, acusado de matar um adolescente de 15 anos à queima-roupa em abril de 2020, será julgado pelo Tribunal do Júri. Cabe recurso e o réu responde em liberdade.
O guarda foi denunciado por homicídio qualificado e tentativa de homicídio - já que o disparo também atingiu o irmão de Jordy. Não foi marcada data para o julgamento.
O Tribunal do Júri julga acusados de crimes dolosos (quando há intenção) contra a vida — por exemplo, homicídio e feminicídio. Além do juiz que coordena o julgamento, há jurados sorteados que representam a sociedade e votam para condenar ou absolver os réus.
O caso aconteceu no bairro Reforma Agrária, na periferia da cidade, onde um grupo de adolescentes estava empinando motocicletas em uma área de obras do prolongamento do Anel Viário Magalhães Teixeira (SP-083).
Jordy Moura Silva estava na garupa de uma motocicleta e foi atingida com um tiro nas costas. O disparo atingiu de raspão o irmão mais velho da vítima, que dirigia o veículo. Claudino Gonçalves foi preso em flagrante e, foi liberado no dia seguinte, permanecendo em liberdade (relembre o caso abaixo).
Em nota, o advogado que representa a família de Jordy na assistência de acusação, Salvador Scarpelli Neto, defendeu que a prova produzida na primeira fase do processo permitiu identificar "indícios de autoria" que apontam que o guarda municipal disparou em direção à motocicleta onde o jovem estava.
Além disso, segundo o assistente de acusação, trata-se de um "caso grave que envolve um agente de segurança pública e mostra a truculência da GCM de Campinas".
A Secretaria Municipal de Segurança Pública de Campinas informou que o caso continua sob análise da Corregedoria da Guarda Municipal e que não afastou o guarda porque a decisão judicial não determinou a exoneração ou o afastamento da função.
O g1 não conseguiu contato com a defesa do acusado até a última atualização desta reportagem.
'Só queremos justiça', diz família
Jordy Moura e a mãe Marluce Moura
Arquivo pessoal
Caique Andre Moura Santos, irmão mais velho da vítima, dirigia a motocicleta no momento do disparo. "Ele foi meu colete. Se não fosse o meu irmão, a bala tinha acertado a minha coluna", relembra.
Segundo ele, a família "não espera vingança, mas justiça".
Já a mãe do jovem morto, Marluce Moura Rodrigues, que mora no Ceará, espera que outras famílias não passem por caso semelhante.
"Por pouco eu não perco os dois. A dor acaba sendo maior por você saber que a pessoa era uma pessoa de bem. E quem deveria proteger, disciplinar da maneira correta, como se manda a lei, não faz isso", lamenta a mãe.
Os familiares relatam que Jordy era um menino carismático, amoroso, trabalhador e de bom coração. Criado em berço evangélico, era o caçula entre quatro irmãos.
Na época da morte do adolescente, a escola em que Jordy estudava chegou a publicar uma nota de repúdio sobre o ocorrido.
Leia mais:
Comunidade escolar divulga nota de repúdio sobre morte de aluno em Campinas: 'vida tirada de maneira brutal'; guarda foi preso
Protesto e homenagem
A morte de Jordy Moura também foi lembrada durante o protesto contra o racismo e a violência policial em 8 de junho de 2020, no Largo do Rosário. O ato relembrou também os assassinatos de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro, e do jovem João Pedro, também no RJ.
Leia mais:
Manifestantes fazem protesto contra racismo no Centro de Campinas, SP
Além disso, um núcleo de educação popular que oferece aulas no Parque Oziel para jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de concluir os estudo decidiu homenagear o adolescente.
"Demos o nome do Jordy como forma de manter viva a memória dele e o compromisso com a luta por justiça", relata André da Silva Franco, coordenador nacional da Rede Emancipa.
Em 2025, o Emancipa Jordy Moura completa cinco anos. Segundo André, a população também irá se mobilizar para para marcar presença no tribunal do júri e garantir que a voz da comunidade e da família seja ouvida.
O caso
Irmão mais velho foi atingido de raspão pelo mesmo disparo que tirou a vida de Jordy Moura
Arquivo pessoal
O jovem foi morto com um tiro nas costas na garupa de uma moto pilotada por um dos irmãos dele. O homicídio ocorreu no bairro Reforma Agrária após a Guarda Municipal ser acionada porque um grupo estava empinando motocicletas em uma área de obras do prolongamento do Anel Viário Magalhães Teixeira (SP-083).
Na data da morte, a Guarda Municipal informou que foi recebida a tiros quando chegou ao local. No entanto, um jovem que fazia parte do grupo de motociclistas contrariou a versão da corporação.
Em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, ele afirmou que os guardas deram tiros para o alto. “Aí o adolescente começou a correr e a Guarda atirou praticamente à queima-roupa", disse.
Guardas impediram socorro, diz testemunha
Gonçalves foi preso em flagrante na data do homicídio e foi liberado no dia seguinte, em audiência de custódia. O MP entrou tentou reverter a soltura, mas o recurso foi negado. Nove testemunhas foram ouvidas pela Polícia Civil no auto de prisão do guarda, que permaneceu em silêncio no depoimento. Dentre os depoentes estavam outros dois agentes da guarda, seis pessoas que participaram do grupo que empinava as motos e uma moradora da região que testemunhou o caso.
A mulher que mora próximo às obras afirmou à Polícia Civil, na época, que era comum que jovens utilizassem o local para empinar as motos, pois não havia trânsito. Ela afirmou que estava a cerca de 50 metros do local e viu quando a viatura da guarda emparelhou com uma das motos antes de disparar.
“O menino que estava atrás, na garupa, o que morreu, inclusive levantava as mãos para a cima, em rendição, gritando ‘para, para’, acho que para o irmão que estava conduzindo a motocicleta”, afirmou a moradora.
No depoimento, ela acrescentou que percebeu que o jovem estava vivo e tentou ajudar no socorro, mas foi impedida pelos guardas. Outro morador ofereceu o carro dele para levar o jovem, mas também foi impedido.
“Eu dizia pra eles [guardas municipais] deixa eu socorrer, deixa eu socorrer’’, mas um deles, com arma na mão, disse para eu me afastar, pois ninguém iria socorrer, que não podia prestar socorro, que a lei não deixava, que só o Samu podia socorrer”.
A Guarda Municipal explicou que não realizou o socorro porque uma lei estadual proíbe que seja realizado o atendimento de "pessoas feridas em confronto" em viaturas policiais, para preservar o local do crime.
Um dos guardas ouvidos durante a investigação era o parceiro de Gonçalves. Na época, ele afirmou à Polícia Civil que havia cerca de 80 motos no local das obras, onde frequentemente havia prática de direção perigosa “se utilizando de motos de leilão e possivelmente roubadas”.
Sobre o momento da morte do estudante, o guarda afirmou que “uma moto preta, alta, talvez uma XRE, o garupa se virou e efetuou o disparo contra a guarnição, momento este em que o encarregado, o guarda Claudino, efetuou dois disparos contra o agressor. Ato contínuo, esta moto passou pelas britas, enquanto uma moto cinza, que estava à frente da moto preta, tentou passar pela brita e parou, e os dois ocupantes caíram”.
“Que pararam ao lado desta moto cinza caída, e ao averiguar o que tinha acontecido, verificaram que o garupa estava ferido. Que pediram para acionar o resgate via Cecon (central de rádio). Que tentou conter o sangramento por alguns instantes, mas algumas pessoas chegaram próximo ao local e passaram a jogar pedras”. Questionado sobre não ter permitido o socorro do garoto, o parceiro de Gonçalves disse que não lembra da moradora.
“Eu não me recordo desta mulher chegar no local e falar isso, eu que coloquei a mão para estancar o sangue. Mas depois passaram a jogar pedras, então pedi para um outro garoto colocar a mão no machucado e não soltar até a chegada da ambulância, mas chegavam algumas pessoas para tentar socorrê-lo, mas aí sai mais sangue da vítima”, disse, conforme o depoimento.
Os participantes do grupo que empinava motos, três deles irmãos de Jordy Moura Silva, negaram que havia alguém armado dentre eles. Na decisão de receber a denúncia, o juiz José Henrique Rodrigues Torres considerou que os depoimentos “não foram colhidos sob a égide do contraditório e não servem para embasar a procedência das alegações deduzidas na denúncia.”
“Entretanto, servem para embasar o juízo de admissibilidade da acusação, neste momento processual inicial, que não se presta ao exame da procedência ou não das alegações do Ministério Público”.
Claudino Gonçalves foi denunciado por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima.
Um guarda municipal foi preso em flagrante pelo homicídio do menino, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), de São Paulo, e é apurada a participação de um segundo guarda.
Polícia Civil investiga morte de adolescente baleado em Campinas
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Arquivo pessoal
A Justiça determinou que o guarda municipal de Campinas (SP) Claudino Gonçalves, acusado de matar um adolescente de 15 anos à queima-roupa em abril de 2020, será julgado pelo Tribunal do Júri. Cabe recurso e o réu responde em liberdade.
O guarda foi denunciado por homicídio qualificado e tentativa de homicídio - já que o disparo também atingiu o irmão de Jordy. Não foi marcada data para o julgamento.
O Tribunal do Júri julga acusados de crimes dolosos (quando há intenção) contra a vida — por exemplo, homicídio e feminicídio. Além do juiz que coordena o julgamento, há jurados sorteados que representam a sociedade e votam para condenar ou absolver os réus.
O caso aconteceu no bairro Reforma Agrária, na periferia da cidade, onde um grupo de adolescentes estava empinando motocicletas em uma área de obras do prolongamento do Anel Viário Magalhães Teixeira (SP-083).
Jordy Moura Silva estava na garupa de uma motocicleta e foi atingida com um tiro nas costas. O disparo atingiu de raspão o irmão mais velho da vítima, que dirigia o veículo. Claudino Gonçalves foi preso em flagrante e, foi liberado no dia seguinte, permanecendo em liberdade (relembre o caso abaixo).
Em nota, o advogado que representa a família de Jordy na assistência de acusação, Salvador Scarpelli Neto, defendeu que a prova produzida na primeira fase do processo permitiu identificar "indícios de autoria" que apontam que o guarda municipal disparou em direção à motocicleta onde o jovem estava.
Além disso, segundo o assistente de acusação, trata-se de um "caso grave que envolve um agente de segurança pública e mostra a truculência da GCM de Campinas".
A Secretaria Municipal de Segurança Pública de Campinas informou que o caso continua sob análise da Corregedoria da Guarda Municipal e que não afastou o guarda porque a decisão judicial não determinou a exoneração ou o afastamento da função.
O g1 não conseguiu contato com a defesa do acusado até a última atualização desta reportagem.
'Só queremos justiça', diz família
Jordy Moura e a mãe Marluce Moura
Arquivo pessoal
Caique Andre Moura Santos, irmão mais velho da vítima, dirigia a motocicleta no momento do disparo. "Ele foi meu colete. Se não fosse o meu irmão, a bala tinha acertado a minha coluna", relembra.
Segundo ele, a família "não espera vingança, mas justiça".
Já a mãe do jovem morto, Marluce Moura Rodrigues, que mora no Ceará, espera que outras famílias não passem por caso semelhante.
"Por pouco eu não perco os dois. A dor acaba sendo maior por você saber que a pessoa era uma pessoa de bem. E quem deveria proteger, disciplinar da maneira correta, como se manda a lei, não faz isso", lamenta a mãe.
Os familiares relatam que Jordy era um menino carismático, amoroso, trabalhador e de bom coração. Criado em berço evangélico, era o caçula entre quatro irmãos.
Na época da morte do adolescente, a escola em que Jordy estudava chegou a publicar uma nota de repúdio sobre o ocorrido.
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Comunidade escolar divulga nota de repúdio sobre morte de aluno em Campinas: 'vida tirada de maneira brutal'; guarda foi preso
Protesto e homenagem
A morte de Jordy Moura também foi lembrada durante o protesto contra o racismo e a violência policial em 8 de junho de 2020, no Largo do Rosário. O ato relembrou também os assassinatos de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro, e do jovem João Pedro, também no RJ.
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Além disso, um núcleo de educação popular que oferece aulas no Parque Oziel para jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de concluir os estudo decidiu homenagear o adolescente.
"Demos o nome do Jordy como forma de manter viva a memória dele e o compromisso com a luta por justiça", relata André da Silva Franco, coordenador nacional da Rede Emancipa.
Em 2025, o Emancipa Jordy Moura completa cinco anos. Segundo André, a população também irá se mobilizar para para marcar presença no tribunal do júri e garantir que a voz da comunidade e da família seja ouvida.
O caso
Irmão mais velho foi atingido de raspão pelo mesmo disparo que tirou a vida de Jordy Moura
Arquivo pessoal
O jovem foi morto com um tiro nas costas na garupa de uma moto pilotada por um dos irmãos dele. O homicídio ocorreu no bairro Reforma Agrária após a Guarda Municipal ser acionada porque um grupo estava empinando motocicletas em uma área de obras do prolongamento do Anel Viário Magalhães Teixeira (SP-083).
Na data da morte, a Guarda Municipal informou que foi recebida a tiros quando chegou ao local. No entanto, um jovem que fazia parte do grupo de motociclistas contrariou a versão da corporação.
Em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, ele afirmou que os guardas deram tiros para o alto. “Aí o adolescente começou a correr e a Guarda atirou praticamente à queima-roupa", disse.
Guardas impediram socorro, diz testemunha
Gonçalves foi preso em flagrante na data do homicídio e foi liberado no dia seguinte, em audiência de custódia. O MP entrou tentou reverter a soltura, mas o recurso foi negado. Nove testemunhas foram ouvidas pela Polícia Civil no auto de prisão do guarda, que permaneceu em silêncio no depoimento. Dentre os depoentes estavam outros dois agentes da guarda, seis pessoas que participaram do grupo que empinava as motos e uma moradora da região que testemunhou o caso.
A mulher que mora próximo às obras afirmou à Polícia Civil, na época, que era comum que jovens utilizassem o local para empinar as motos, pois não havia trânsito. Ela afirmou que estava a cerca de 50 metros do local e viu quando a viatura da guarda emparelhou com uma das motos antes de disparar.
“O menino que estava atrás, na garupa, o que morreu, inclusive levantava as mãos para a cima, em rendição, gritando ‘para, para’, acho que para o irmão que estava conduzindo a motocicleta”, afirmou a moradora.
No depoimento, ela acrescentou que percebeu que o jovem estava vivo e tentou ajudar no socorro, mas foi impedida pelos guardas. Outro morador ofereceu o carro dele para levar o jovem, mas também foi impedido.
“Eu dizia pra eles [guardas municipais] deixa eu socorrer, deixa eu socorrer’’, mas um deles, com arma na mão, disse para eu me afastar, pois ninguém iria socorrer, que não podia prestar socorro, que a lei não deixava, que só o Samu podia socorrer”.
A Guarda Municipal explicou que não realizou o socorro porque uma lei estadual proíbe que seja realizado o atendimento de "pessoas feridas em confronto" em viaturas policiais, para preservar o local do crime.
Um dos guardas ouvidos durante a investigação era o parceiro de Gonçalves. Na época, ele afirmou à Polícia Civil que havia cerca de 80 motos no local das obras, onde frequentemente havia prática de direção perigosa “se utilizando de motos de leilão e possivelmente roubadas”.
Sobre o momento da morte do estudante, o guarda afirmou que “uma moto preta, alta, talvez uma XRE, o garupa se virou e efetuou o disparo contra a guarnição, momento este em que o encarregado, o guarda Claudino, efetuou dois disparos contra o agressor. Ato contínuo, esta moto passou pelas britas, enquanto uma moto cinza, que estava à frente da moto preta, tentou passar pela brita e parou, e os dois ocupantes caíram”.
“Que pararam ao lado desta moto cinza caída, e ao averiguar o que tinha acontecido, verificaram que o garupa estava ferido. Que pediram para acionar o resgate via Cecon (central de rádio). Que tentou conter o sangramento por alguns instantes, mas algumas pessoas chegaram próximo ao local e passaram a jogar pedras”. Questionado sobre não ter permitido o socorro do garoto, o parceiro de Gonçalves disse que não lembra da moradora.
“Eu não me recordo desta mulher chegar no local e falar isso, eu que coloquei a mão para estancar o sangue. Mas depois passaram a jogar pedras, então pedi para um outro garoto colocar a mão no machucado e não soltar até a chegada da ambulância, mas chegavam algumas pessoas para tentar socorrê-lo, mas aí sai mais sangue da vítima”, disse, conforme o depoimento.
Os participantes do grupo que empinava motos, três deles irmãos de Jordy Moura Silva, negaram que havia alguém armado dentre eles. Na decisão de receber a denúncia, o juiz José Henrique Rodrigues Torres considerou que os depoimentos “não foram colhidos sob a égide do contraditório e não servem para embasar a procedência das alegações deduzidas na denúncia.”
“Entretanto, servem para embasar o juízo de admissibilidade da acusação, neste momento processual inicial, que não se presta ao exame da procedência ou não das alegações do Ministério Público”.
Claudino Gonçalves foi denunciado por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima.
Um guarda municipal foi preso em flagrante pelo homicídio do menino, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), de São Paulo, e é apurada a participação de um segundo guarda.
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